A arte de estar no presente

A arte de estar no presente

Por Nisargan

Vivemos sob um constante tráfego de pensamentos involuntários em nossa mente, da ordem de 50.000 a 60.000 desses pensamentos por dia, o que nos perturba muitíssimo mais do que normalmente supomos, pois em sua enorme maioria eles não são apenas desnecessários e repetitivos, mas fundamentalmente prejudiciais.

Pensamentos Involuntários Prejudiciais

Esses pensamentos ocorrem em quase toda sua totalidade de uma maneira inconsciente. Isto quer dizer: embora eles estejam acontecendo constantemente e nos afetando imensamente de uma maneira física e emocional, em geral não nos damos conta do que de fato estamos pensando e, quando nos damos conta, não queremos ou não sabemos interromper esse tráfego de pensamentos.

Os pensamentos involuntários prejudiciais são os grandes vilões de nossa vida, mas em nossa mente ocorrem também outros tipos de pensamentos: os pensamentos involuntários inspiradores (soluções, boas orientações e lembranças importantes que surgem em nossa mente), os voluntários prejudiciais (“puxamos” ou provocamos voluntariamente esses pensamentos, embora eles sejam em maior ou menor grau destrutivos) e os voluntários necessários (“puxamos” ou provocamos voluntariamente esses pensamentos, sendo eles importantes em nossa vida para efeito de alguma tomada de decisão, organização ou planejamento).

Reconhecimento dos Pensamentos Prejudiciais

Muitas vezes julgamos determinados pensamentos como necessários, valiosos ou inofensivos, enquanto que, na verdade, eles não o são. É importante ficar claro que, se um pensamento não é necessário, então fatalmente ele é nocivo, pois, além de não nos acrescentar nada, nos dispersa do que estamos fazendo, muitas vezes gerando-nos acidentes, ineficiência, dificuldade de aprendizagem, respostas inadequadas, perturbações emocionais, desequilíbrios em nossa saúde, redução de nossa capacidade de desfrutar, distorção de nossa percepção da realidade, desconexão com nossa naturalidade saudável, auto-desqualificação, escravidão e/ou vulnerabilidade à manipulação social, além de não permitir que sintamos a serenidade e o bem-estar que surgem quando a nossa consciência está simplesmente no aqui e agora e não permitir que nossa mente repouse e se restabeleça dos desgastes normais que ela sofre, dificultando assim seu pleno funcionamento quando de fato é requerida. Tudo isso nos gera todo tipo de inúteis sofrimentos e limitações.

Seguem alguns exemplos de pensamentos geralmente considerados “inofensivos”, mas que de fato não o são: pensamentos compulsivos sobre futebol, sobre política, sobre sexo, sobre “o que faria se ganhasse na loteria”, sobre “o carro dos sonhos”, sobre aquele “gatão” ou aquela “gatinha”, entre outros tantos. Enquanto “dermos corda” aos pensamentos prejudiciais, os perpetuaremos, dificultando assim os processos mentais valiosos e deixando de criar o espaço para que, a partir do silêncio interior, aflorem o bem-estar profundo, a serenidade, a sensibilidade à beleza, a leveza, a afetividade, a criatividade e a sabedoria.

Assim, os pensamentos desnecessários que transitam em nossa mente são como “vírus” de computador que atrapalham o seu pleno desempenho e obscurecem a própria percepção da realidade presente. E, como os “vírus” de computador, para serem desativados, tais pensamentos precisam ser identificados e reconhecidos como “vírus”.

Um ponto importante a ser ressaltado é que, em nossa cultura, normalmente tendemos a dar excessivo crédito a argumentos lógicos, o que pode ser facilmente observado, de uma maneira quase que caricatural, entre os políticos profissionais. Assim, em relação a um mesmo fato, um político de um determinado partido dá um argumento lógico a favor de um determinado ponto de vista, e outro político de outro partido, em relação ao mesmo fato, dá outro argumento lógico a favor de um ponto de vista oposto. Observando esses políticos, é fácil perceber que a lógica não está a favor da verdade, e sim comprometida a defender essa ou aquela motivação consciente ou inconsciente. Portanto, não dá para confiar na lógica, nem na nossa própria, porque, em geral, também em nós ela não está a favor da verdade, e sim igualmente comprometida a defender essa ou aquela motivação consciente ou inconsciente.

A Maior Doença do Ser Humano

A maior doença do ser humano é justamente esse excesso de pensamentos involuntários prejudiciais, pois eles são a causa raiz da enorme maioria das dificuldades pelas quais passamos na vida.

Em algumas pessoas, prevalece determinado grupo de pensamentos involuntários prejudiciais que gera uma ou outra perturbação específica, enquanto que, para outras, esse grupo de pensamentos é diferente, gerando outras perturbações. Assim, umas tendem a ser, por exemplo, mais depressivas, outras mais ansiosas, outras mais raivosas, outras mais gananciosas, outras mais medrosas, outras mais prepotentes, outras mais orgulhosas, como se cada pessoa tivesse seu “aparelho de rádio” ligado a determinadas “estações” com programações voltadas a manter e a fortalecer esse ou aquele distúrbio.

Da mesma maneira que uma pessoa que mora em um lugar com o ar muito poluído acaba se acostumando com essa poluição e deixa de se dar conta dela, também nos acostumamos com nossa poluição de pensamentos e deixamos de nos dar conta dela. Em ambos os casos, esse acostumar-se com a poluição não significa deixar de ser afetado e prejudicado por ela. Assim, o primeiro passo para serenamente procurarmos soluções é nos darmos conta da nossa real situação e dos malefícios que ela traz.

Percepção do Aqui e Agora X Pensamentos Involuntários Prejudiciais

A boa notícia é que existe uma relação inversa entre Percepção do Aqui e Agora e a ocorrência dos pensamentos involuntários prejudiciais!

A Percepção do Aqui e Agora é como um dimmer (tipo de interruptor que controla a intensidade da luz emitida por lâmpadas): ao aumentarmos a intensidade da “luz” de nossa Percepção, diminuímos proporcionalmente nossos pensamentos poluidores e, portanto, diminuímos também a “escuridão” provocada por eles, não importa em quais “estações de rádio” estejamos acostumados a nos sintonizar! Daí as palavras “Meditação” e “Medicina” terem a mesma raiz!

As melhores prevenções dos infortúnios da vida, as melhores respostas aos desafios da vida e o melhor desenrolar dos acontecimentos da vida ocorrem a partir de um estado de Presença, portanto:

• Quanto mais presentes estivermos, melhor será nosso futuro como um todo!

E, como vivemos em rede, um afetando o outro, podemos também dizer:

• Quanto mais presentes estivermos, melhor será o futuro dos que nos cercam!

A Abrangência do Aqui e Agora

O aqui e agora é tudo o que está acontecendo no exato momento em que estamos e que pode ser captado pela nossa consciência. Ele pode ser externo e interno.

O aqui e agora externo é o que está acontecendo fora de nós e que pode ser identificado como sons, cheiros, imagens, tato, sabores...

O aqui e agora interno é o que está acontecendo dentro de nosso corpo/mente e que pode ser identificado como sensações corporais (pressão, tensão, formigamento, frio, calor, fome, sede, cansaço, disposição, relaxamento, sensações relacionadas à respiração etc.), emoções/sentimentos/estados de ânimo (medo, tristeza, raiva, angústia, ansiedade, confiança, bem-estar, leveza, serenidade, alegria, felicidade, satisfação, etc., etc.) e pensamentos.
Como estar presente é ter uma percepção contínua do aqui e agora tanto interno quanto externo, basta permanecermos atentos a seja lá o que for do aqui e agora para estarmos presentes, desde que não haja pensamentos não conscientizados intercalados com essa percepção. Isso porque os pensamentos, embora também sejam elementos do aqui e agora, no caso, elementos internos, têm características que os distinguem de todos os outros elementos do aqui e agora:

quando os pensamentos surgem, a consciência desaparece
quando a consciência surge, os pensamentos desaparece

O que não acontece com os outros elementos do aqui e agora.

Sim, podemos nos conscientizar de pensamentos ocorrendo em nossa mente, mas no momento em que nos conscientizamos, eles não estão mais ali, sendo mais uma memória do que ocorreu do que a própria presença deles.

Outro aspecto importante de nos darmos conta é que os elementos do aqui e agora identificados pela nossa consciência estão em constante mudança. Nesse fluxo, há apenas um ponto que não muda, a própria consciência que capta tudo isso. Sim, a consciência pode estar ausente, mas, quando presente, ela é sempre a mesma.

Dessa maneira, pode haver, por exemplo, tristeza, ansiedade ou qualquer outra emoção ou sensação, mas a consciência que observa cada um desses elementos do aqui e agora é a mesma, sempre neutra, sempre não identificada. Consciência é consciência, e não o que é conscientizado e muito menos os comentários a respeito do que é conscientizado, já que consciência definitivamente não é pensamento. No aflorar da Presença, a separação entre consciência e pensamento é o ponto crucial a ser constatado!

Definição de Meditação

Em nosso contexto, meditação é:

Mantermo-nos continuamente atentos, por um determinado período de tempo,
à realidade presente disponível aos nossos sentidos.

Parece simples, banal, mas a tendência de nossa mente é logo provocar algum pensamento involuntário no mínimo desnecessário, o que imediatamente nos tira a atenção ao aqui e agora, podendo esse pensamento adquirir a forma de um julgamento, uma opinião, um desejo, uma imagem mental, uma lembrança...

Assim, no início das práticas de meditação, os períodos de dispersão são repetitivos e longos, e o objetivo é torná-los cada vez menos freqüentes e curtos.

E como torná-los mais curtos? Pegando em flagrante os pensamentos involuntários que surgirem, pois só assim conseguiremos interrompê-los e voltarmos nossa atenção para o aqui e agora. Sem pegá-los em flagrante, os pensamentos involuntários prejudiciais seguem em frente...

Dessa maneira, a meta a ser cumprida em uma prática de meditação não é não pensar, pois os pensamentos involuntários vão ocorrer, quer os queiramos ou não. A meta a ser cumprida é nos mobilizarmos a manter a presença e pegarmos em fragrante os pensamentos involuntários que surgirem, o que, como já mencionado, nos permite interrompê-los e voltar nossa atenção para o aqui e agora!

Distinções Importantes

A palavra “meditação” é muito inespecífica, isto é, tem significados diversos e muitas vezes opostos entre si. A idéia do que é meditação muitas vezes está tão arraigada na pessoa que, mesmo quando ela concorda intelectualmente com um significado diferente do que ela já tinha, na prática, de uma maneira inconsciente ela acaba buscando satisfazer o que o seu significado arraigado indica e não o que o novo significado indica.

Por exemplo: podemos explicar que meditação é estar continuamente presente, já que estar presente leva à diminuição dos pensamentos involuntários perturbadores, com todas as conseqüências positivas dessa diminuição. A pessoa pode até entender, concordar e se propor a praticar a nossa meditação, mas após a prática ela pode comentar: “Não consegui me desligar do meu corpo, ou das tensões do meu corpo, ou dos sons externos, ou disso ou daquilo...”.

Assim, o conceito arraigado de meditação que ela carrega em seu interior é que meditação é se desligar do aqui e agora e ir para outras esferas, e é isso o que ela quis fazer, apesar da proposta ter sido não só outra, mas até oposta a essa.

Nesse exemplo acima de falta de compreensão real pela pessoa da nova proposta de meditação há, muitas vezes, outra idéia equivocada mais profunda: “Estar no aqui e agora é estar receptivo aos incômodos que o aqui e agora traz, como tensões no corpo, sentimentos desagradáveis, sons irritantes etc., etc., etc..”

O que precisa ser profundamente compreendido é que, em sua enorme maioria, esses incômodos na verdade não vêm da percepção de determinada sensação ou emoção, mas sim dos pensamentos relacionados! Não havendo esses pensamentos, isto é, se a pessoa ficar APENAS na sensação ou na emoção, sem qualquer adjetivo, sem certo ou errado, deveria ou não deveria, pior ou melhor, antes ou depois, apenas observando tal sensação ou emoção de uma maneira neutra, o incômodo tende a se dissolver ou a desaparecer completamente!

Relacionado a isso, o que perdura e aumenta um estado desagradável são justamente os pensamentos que o reforçam, como um fogo destruidor que se mantém e que se expande ao continuamente adicionarmos lenha a ele. Sem lenha adicionada ao fogo, ele apaga por si mesmo!

Assim, em nosso contexto, meditação não é se desligar do aqui e agora, não é imaginação ou visualização, não é a busca de poderes mentais ou de percepções extra-sensoriais, não tem relação com religiões ou crenças, não é repressiva, não é uma prática necessariamente parada, não é inutilizar a mente, não leva à seriedade, não é a tentativa de substituir pensamentos negativos por positivos, não é refletir ou pensar sobre algum tema e não é concentração. Lembre-se: meditação é simplesmente estar continuamente presente por um determinado período de tempo!

Vale aqui destacar a distinção entre meditação e concentração, pois essa é uma confusão muitíssimo comum, e por mais que se explique, a tendência é essa confusão persistir. Na concentração, apenas um foco é eleito para receber a atenção da pessoa, sendo considerado dispersão todo e qualquer desvio da atenção desse foco. Na meditação, não há um foco exclusivo da atenção, já que basta a pessoa estar atenta a QUALQUER elemento do aqui e agora para estar presente.

Sim, na meditação também pode haver um Foco Preferencial da atenção da pessoa, mas, nela, esse foco é PREFERENCIAL, e não exclusivo. Assim, o meditador pode ficar preferencialmente atento a esse foco, como as sensações do seu corpo ou as sensações relacionadas à sua respiração, por exemplo, mas sua atenção também pode ir espontaneamente a outros elementos do aqui e agora sem que isso seja considerado dispersão, podendo retornar a seu Foco Preferencial quando for fácil esse retorno. Na meditação, apenas os pensamentos não conscientizados são as dispersões!

Dessa maneira, durante a prática de uma técnica de meditação, não se pode considerar como distração, por exemplo, o som de um latido de um cachorro, pois esse também faz parte do aqui e agora e também pode ser alvo da percepção neutra do meditador. Agora, se o meditador começar a julgar, criticar ou se lamentar pela ocorrência do latido, aí sim ele estará distraído, não pelo som em si, mas pelos pensamentos que se “acoplaram” à percepção do som. Não havendo esse “acoplar”, não há dispersão!

Para o meditador, a distinção entre perceber e pensar é muito importante, já que fomos condicionados a “fundir” toda e qualquer percepção com o pensar a respeito. Portanto, ver o pôr-do-sol não é o mesmo que pensar sobre o pôr-do-sol, ouvir o cantar de um pássaro não é o mesmo que pensar sobre o cantar do pássaro, sentir o meu braço não é o mesmo que pensar sobre o meu braço!

Outra distinção importante é entre conhecimento e sabedoria. Conhecimento é estar informado sobre algo sem que isso de fato seja vivenciado ou sem que isso desencadeie alguma transformação construtiva relacionada, e sabedoria é VIVENCIAR esse algo ou TRANSFORMAR-SE construtivamente em função de sua informação sobre esse algo. Cuidado: o conhecimento “espiritual” vicia, satisfaz o ego e cria a ilusão de que ter a memória abarrotada de informações sobre o caminho é o mesmo que percorrê-lo, ou de que ter a memória abarrotada de informações sobre a meta é o mesmo que tê-la atingido. Já na sabedoria, há plena ciência de que mais vale a vivência do que a lembrança de mil palavras apontando para a vivência.

Outra confusão comum, associada ao tema da meditação, diz respeito à expressão: “devemos viver o presente”. Essa expressão é perigosa, pois pode ser mal interpretada e levar a atitudes inconseqüentes, ou seja, a não levarmos em consideração as conseqüências de nossas ações, conseqüências essas que eventualmente podem ser desastrosas para nosso futuro ou para o futuro dos que nos cercam. A expressão mais adequada é: “devemos viver atentos ao presente”, o que implica, entre outras coisas, a termos clara consciência dessas conseqüências. Assim, o fluir de nossas ações é determinado também por essa consciência, o que naturalmente nos leva a atitudes preventivas em relação a eventuais infortúnios futuros!

Uma confusão semelhante à anterior é acharmos que estar no presente implica em deixar de ter intenções, confusão essa que nos leva a uma vida sem rumo. As intenções existem, quer tenhamos ou não consciência delas, e ao ampliarmos nossa consciência do aqui e agora nos tornamos conscientes com clareza também delas, já que as intenções nada mais são do que elementos do aqui e agora interno, ou seja, elas estão presentes em nosso universo interior. E, ao estarmos claramente conscientes delas, essa própria consciência nos desencadeia um alinhamento de nossas atitudes e comportamentos em direção à realização das intenções que sentimos, sob a luz da consciência, que vale a pena manter, e tendemos a dissolver intenções que sentimos não valer a pena manter. Ocorrendo essa dissolução, abre-se espaço para que uma nova intenção naturalmente aflore em nosso interior, que novamente deverá ser conscientizada...

Aqui, nos referimos às intenções naturais que existem em nosso interior, e não às intenções forçadamente fabricadas pelo nosso ego.

O Portal para o Ser

O ser humano normal não conhece o Ser que habita em seu interior, mas apenas a mente com seu turbilhão de pensamentos. Ao remover esse turbilhão, o Ser se manifesta, com sua sabedoria, serenidade, bem-aventurança e plenitude. Não é preciso criar o céu, basta remover as nuvens...

Nós, em geral, vivenciamos muito pouco da percepção contínua que manifesta o Ser, portanto não podemos avaliar de fato o que ela representa. No máximo podemos ter um leve vislumbre de que ela é o próprio Portal para o Estado de Ser Pleno. Mas a maioria das pessoas nem esse vislumbre tem. Assim, essa maioria de pessoas não reconhece a importância de aumentar a “luz” da consciência e, portanto, não se mobiliza para esse fim. Já os que têm esse vislumbre, não o vislumbre intelectual, mas o sentido em alguma dimensão interna mais profunda, dependendo do grau desse vislumbre têm um apetite maior ou menor de mergulhar nesse estado de Presença.

Conseqüências do Aflorar da Presença

Mais uma vez, devido à relação inversa que existe entre percepção contínua do aqui e agora e a ocorrência de pensamentos involuntários prejudiciais, a conseqüência natural do aflorar da Presença devido à meditação é a diminuição desses pensamentos. Mas essa não é a única conseqüência grandiosa. Com o aflorar da Presença, passamos também a nos conscientizar mais dos pensamentos involuntários inspiradores e passamos a ter maior clareza em relação aos pensamentos voluntários.

Com tudo isso, nossas emoções mudam, nossos sentimentos mudam, nossos comportamentos mudam, nossas atitudes perante a vida mudam, e para bem melhor. Esse é o Poder da Presença, e ele precisa ser constatado em nossa vida, pois só com essa real constatação é que passaremos verdadeiramente a confiar nesse Poder e, portanto, a optar mais e mais a vivenciar com intensidade o momento presente.

É claro que o grau dessas conseqüências positivas é proporcional ao grau de Presença que conseguimos manter durante a prática de técnicas de meditação e a sua conseqüente “irradiação” para nosso dia-a-dia.

Técnicas de Meditação

Qualquer situação pode ser uma oportunidade para prestarmos atenção de uma maneira contínua ao aqui e agora, porém existem situações específicas “formatadas” para criar condições favoráveis a esse prestar atenção, chamadas comumente de “técnicas de meditação.”

Uma confusão bastante comum e perigosa a ser evitada é achar que meditação é essa situação específica. Nada mais falso. A meditação não está na situação, mas no PRESTARMOS ATENÇÃO ao aqui e agora enquanto estamos na situação!

Existem três iniciativas de treinarmos nossa atenção a estar voltada para o momento presente:

• Durante técnicas de meditação.
• Durante as atividades do dia-a-dia.
• Nas duas situações.

O ideal é: nas duas situações, pois só praticar técnicas de meditação não é suficiente e, se não a praticarmos, dificilmente conseguiremos manter um nível de Presença real nas atividades do dia-a-dia. Assim, a segunda iniciativa precisa da primeira para se tornar uma realidade vivida. Mas atenção: as técnicas de meditação só funcionam se realmente praticadas, e praticadas com INTEIREZA!

“Fases Internas” das Técnicas de Meditação

Nas diferentes técnicas de meditação, variam as circunstâncias externas, mas as “fases internas” são sempre as mesmas:

Fase 1: Procurar manter a percepção continuamente voltada para o aqui e agora, seja ele interno ou externo.

Fase 2: Pegar em flagrante os pensamentos involuntários que ocorrem.

Fase 3: Interromper tais pensamentos, ao imediatamente voltar para a fase 1.

Obviamente, durante a prática de qualquer técnica de meditação, não é o momento de pensarmos voluntariamente ou intencionalmente sobre nada! Assim, se usarmos o tempo da prática da meditação para pensarmos voluntária e intencionalmente sobre nossos problemas pessoais ou sobre qualquer outra coisa, simplesmente não estaremos meditando, no sentido aqui exposto!

Sobre a Fase 2, pegar em flagrante os pensamentos involuntários significa não apenas reconhecer que estávamos pensando, mas sabermos quais eram esses pensamentos, ou seja, em que de fato estávamos pensando. Quando temos esse reconhecimento dos pensamentos involuntários, aumentamos a probabilidade de que os pensamentos involuntários prejudiciais não voltem a ocorrer, como se os deixássemos constrangidos de voltar, e aumenta a probabilidade de que os pensamentos involuntários inspiradores ocorram mais freqüentemente, ou pelo menos os tornamos mais perceptíveis.

Na verdade, todos os pensamentos involuntários prejudiciais que ocorrem em nossa mente são considerados importantes por alguma dimensão interna, avaliação essa equivocada na situação em que estamos vivendo no momento. Talvez aqueles pensamentos foram importantes em alguma situação do passado, ou seriam importantes em um contexto diferente do que estamos vivendo agora, ou poderiam ser importantes se fôssemos robôs que precisássemos sempre programar com antecipação nossas respostas às diferentes situações da vida. O fato é que esses pensamentos precisam de uma reavaliação constante em relação à sua real importância. E, enquanto esses pensamentos se mantiverem inconscientes, essa reavaliação jamais ocorrerá! Já o tornar conscientes esses pensamentos, seguidos pela sua interrupção, em si já é essa reavaliação, o que faz com que tais pensamentos aos poucos deixem de ocorrer.

E com a diminuição desses pensamentos, com o tempo passamos a perceber que nossas respostas inadequadas às situações da vida muitas vezes se dão justamente devido a agirmos como robôs programados, já que estar programado a agir de tal maneira implica em não estarmos verdadeiramente presentes na situação atual. E percebemos também que as melhores respostas às situações da vida se dão quando estamos verdadeiramente presentes, atentos e inteiros no momento. Dessa maneira, pela experiência aumenta nossa confiança nas respostas que afloram a partir da Presença.

Mas atenção: o meditador deve encarar seus pensamentos prejudiciais com indiferença, sem levá-los a sério e com uma dose de descrédito em relação à maioria deles, tanto durante suas práticas de meditação como em seu cotidiano, e jamais deve encará-los com irritação. Em vez de nos lamentarmos e de ficarmos chateados por ter “voado”, devemos ficar felizes por ter percebido a dispersão e ter “voltado”!

Assim, de acordo com essa visão, não está correto dizer que meditação é não pensar, pois os pensamentos involuntários ocorrem quer queiramos ou não. Na meditação, o ponto mais importante é serenamente pegarmos em flagrante os pensamentos involuntários e, após isso, interrompê-los e voltarmos nossa atenção para o aqui e agora!

Desmanche da Seqüência Contínua de Pensamentos

Na inconsciência habitual que a maioria das pessoas vive, um pensamento prejudicial leva imediatamente a outro, depois a outro, e a outro, em uma seqüência contínua sem praticamente haver espaço de real Presença entre um pensamento e outro.

Quando passamos a pegar em flagrante e a interromper esses pensamentos, ao voltarmos voluntariamente nossa consciência para o presente, essa cadeia ininterrupta de pensamentos começa a se partir. Isso significa que, inicialmente, começa a haver pequenos intervalos de Presença real entre um pensamento e outro, intervalos esses novamente interrompidos pela ocorrência de mais um pensamento desnecessário, até o próximo pegar em flagrante e a próxima interrupção voluntária, e assim por diante.

Dessa maneira, no começo da prática de técnicas de meditação, algumas pessoas ficam surpresas e frustradas ao perceber a grande quantidade desses pensamentos que insistem em ocorrer, apesar do empenho da pessoa em se manter presente. É assim mesmo, esse é o processo normal de “desmanche” da cadeia contínua de pensamentos prejudiciais.

Assim, o primeiro passo é fragmentar essa cadeia contínua de pensamentos em seqüências de pensamentos cada vez menores, com os respectivos intervalos de Presença entre uma seqüência e outra.

Por isso, a meta de nos manter continuamente conscientes durante uma prática de meditação não significa que não tenhamos pensamentos involuntários prejudiciais durante aquela prática, pois é perto do impossível deixar de tê-los no início. A meta deve ser a de nos manter continuamente conscientes, sim, mas isso inclui também, quando um pensamento involuntário ocorrer, o conscientizarmo-nos de que tal pensamento acabou de ocorrer!

Em outras palavras, pegar em flagrante os pensamentos involuntários e imediatamente voltar ao aqui e agora é manter-se continuamente consciente! E a interrupção da continuidade de consciência se dá apenas quando os pensamentos involuntários ocorrem e nós não nos damos conta de que eles ocorreram!

Com a prática, fica cada vez mais fácil e rápido pegar em flagrante os pensamentos involuntários, o que leva a um dispersar progressivo das nuvens poluentes de pensamentos que tanto nos sufocam e a um aflorar progressivo de nossa sabedoria.

Urgência – O Grande Impulsionador

A percepção contínua do aqui e agora só revela seu potencial máximo quando for a prioridade de nossa vida.

Havendo essa prioridade, acontece uma forte motivação natural que nos impulsiona a verdadeiramente mantermos nossa consciência no que está acontecendo dentro e fora de nós no exato momento em que estamos, o que cria as condições para que o Ser Pleno aflore, com todos os seus imensos benefícios.

E, para os que não têm essa prioridade de vida, mas têm alguma motivação de se aprofundar em meditação, a própria constatação dos benefícios que ela traz ajuda a colocar o estar presente em um grau de importância crescente, o que, proporcionalmente, aprofunda nossa Presença e aumenta os benefícios que ela traz.

Resumindo: quanto mais motivados estivermos a ter uma percepção contínua do aqui e agora, mais prolongados serão esses períodos de Presença e maiores serão os seus benefícios.
Para algumas pessoas essa urgência surge quando elas se dão conta de que a vida é curta, pelo menos nesse corpo, e que a qualquer momento poderemos deixar de estar nele... Se não for agora, pode não haver uma terceira chance, talvez nem mesmo uma segunda chance... Portanto, agora é o momento!

A Sabedoria de Ser um Meditador

Dentre as inúmeras classificações de seres humanos, uma é a que diz que há dois tipos de pessoas:

• As que querem atingir o bem-estar crescente e se mobilizam a atingi-lo.
• As que querem atingir o bem-estar crescente e não se mobilizam a atingi-lo.

Para ser um meditador, a pessoa necessariamente precisa pertencer ao primeiro tipo de pessoa.
Assim, um meditador tem plena consciência dos benefícios de aflorar a sua Presença e de fato se mobiliza a aflorá-la em seu cotidiano e durante a prática de técnicas de meditação. Para o meditador, essa prática diária é fundamental, pois sabe que sua mobilização para estar presente no cotidiano se torna mais efetiva com ela.

No início, alguma disciplina pode ser necessária para manter essa prática diária, mas logo o bem-estar desencadeado por ela passa a ser o real fator motivador, e não mais a obrigação ou a disciplina. Na verdade, à medida que mais e mais serenamos a nossa mente pelo aflorar de nossa Presença, mais os momentos de meditação são naturalmente sentidos como um profundo período de bem-estar e serenidade em nossa vida, a ponto de, para muitos meditadores, a meditação representar o lazer mais grandioso de suas vidas.

As características básicas de um meditador são a motivação e a continuidade. Lembre-se, a motivação é como o oxigênio: não é ele que queima e, mesmo assim, quanto mais ele estiver disponível, maior a intensidade da “chama”.

Lembre-se também: para a água líquida entrar em ebulição, ela precisa ser aquecida continuamente. Se, quando ela estiver a uns 40 graus, resolvo desligar o fogão pensando em acendê-lo daqui a uns dias para continuar o processo de aquecimento, vou perceber que a água esfriou e que todo aquele processo precisa ser refeito. Ciente disso, o meditador, além de se manter mobilizado a estar presente em suas atividades cotidianas, também pratica técnicas de meditação todos os dias, mesmo se tiver uma vida repleta de afazeres, pois sabe que quanto menos “peso” tiver “nas costas” mais eficientemente poderá “caminhar”.

A alimentação vegetariana também é muito importante para o meditador: “A alimentação não-vegetariana é uma das causas básicas de toda a sociedade estar em uma luta praticamente contínua. Ela o torna insensível, duro, como uma rocha, e cria raiva e violência em você, o que pode ser facilmente evitado.” (Osho, The Last Testament)

Assim, ser vegetariano ajuda o meditador a se aprofundar mais facilmente em meditação, eliminando muitos dos obstáculos que dificultam o aguçar de sua consciência.

Processo Passo a Passo

“A jornada de mil quilômetros começa com um passo.” (Lao Tzu)

Embora o aflorar da Presença possa acontecer abruptamente, é importante que o meditador saiba que, em geral, esse aflorar acontece passo a passo, pois as dispersões da mente, em geral, também diminuem passo a passo, à medida que são percebidas e colocadas de lado.

Assim, o meditador deve ter cuidado com sua ansiedade em elevar rapidamente sua Presença, pois essa mesma ansiedade, que implica em futuro e que em si é um emaranhado de pensamentos, faz com que ele saia do presente! Dessa maneira, sua ênfase não deve estar no futuro, mas no passo a ser dado agora, ou seja, no estar presente no exato momento em que ele está, não importando o tempo que leve para chegar a seu destino!

Outro ponto a ser ressaltado é que, se a pessoa ficar focada em um destino distante, tenderá a achar difícil atingi-lo. E, a partir do momento em que a pessoa incorpora essa sensação de dificuldade, bloqueios surgem e limitações se manifestam. Ache qualquer coisa difícil de fazer, e algo trava, tornando aquilo realmente difícil. Quanto mais difícil acharmos, maior o “travamento”.
E o contrário felizmente também é verdadeiro: ache qualquer coisa fácil de fazer, e o bom potencial para fazê-lo se manifesta!

O passo que podemos dar agora é sempre fácil, e é aí que devemos nos focar, principalmente porque essa sensação de facilidade acaba sendo reforçada e, portanto, nosso bom potencial para prosseguirmos se manifesta mais abertamente.

É fácil darmos o próximo passo, é fácil estarmos presentes neste momento, é fácil mantermos esta Presença por um tempinho...

Aflorar a Presença: O Jogo da Vida

É muito valioso encarar o aflorar da Presença como o excitante jogo da vida ou mesmo como o objetivo da vida, e sempre se mobilizar para esse fim de uma maneira leve e divertida, pois essa mesma atitude favorece esse aflorar.

Estarmos presentes também acontece mais facilmente ao valorizarmos o que já temos de Presença. Nesse jogo, a pessoa pode ter ciência de que precisa continuar ampliando o seu nível de Presença, porém isso não quer dizer que deva desvalorizar o nível que já alcançou. E lembre-se: ao estar presente neste momento, o estar presente no próximo momento se torna mais fácil e mais provável!

Estar presente é como estar em uma grande escadaria. Para estar na escadaria, não importa se a pessoa está em seus degraus mais baixos ou em seus degraus mais altos, pois basta estar em um degrau para já estar na escadaria! E, para chegar ao topo da escadaria, o importante não é estar posicionado na sua parte superior, pois a pessoa pode estar parada ali. Para chegar a seu topo, o importante é subir continuamente um degrau! E, no caso do estar presente, subir um degrau significa estar presente agora!

Se você reconhece o valor de ser um meditador e ainda não o é, sugiro que considere a possibilidade de ser agora o momento de começar!
 
Do livro “A Arte de Estar no Presente”, esgotado no momento, de Nisargan: www.espacopresenca.com.br


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