Reabilitação lúdica

Reabilitação lúdica

Thiago Romero* 

Um programa de treinamento computadorizado para o tratamento de problemas relacionados à percepção auditiva foi desenvolvido pela fonoaudióloga Cristina Ferraz Murphy, pesquisadora da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo (USP).

Com base na hipótese de que os transtornos de leitura podem ser causados por uma alteração no processamento temporal auditivo (PTA), o programa foi criado para ser utilizado na reabilitação de crianças com dislexia, tipo de transtorno de aprendizagem caracterizado pela dificuldade para ler e escrever.

O PTA, explica a pesquisadora que desenvolveu seu trabalho com bolsa de doutorado da FAPESP, é uma habilidade de percepção auditiva que requer o rápido processamento dos estímulos sonoros. A partir de uma adaptação do software americano Fast Forword, a pesquisadora desenvolveu dois jogos de computador, contendo estímulos não-verbais e verbais, para o treinamento auditivo das crianças.

O objetivo do jogo não-verbal é estimular a percepção e diferenciação de sons agudos e graves, apresentando para isso parâmetros acústicos semelhantes aos fonemas do português brasileiro, enquanto o jogo verbal promove os estímulos de fala por meio da diferenciação de sílabas com sons parecidos.

“Os tipos de estímulos utilizados no jogo verbal são inéditos no Brasil, em comparação aos programas computadorizados também usados no país para o treinamento de habilidades auditivas. Esses estímulos verbais apresentam, como característica principal, a fala expandida, ou seja, o tempo de produção das sílabas aumentado para facilitar a compreensão das crianças”, disse Cristina à Agência FAPESP.

“Assim elas são capazes de discriminar, por exemplo, consoantes iniciais como ‘ta’ ou ‘da’. Essa expansão do som vai diminuindo, conforme a melhora do desempenho da criança, até que seja ouvido o tempo de produção normal da sílaba”, explica. “Já no jogo não-verbal a criança aprende a discriminar os sons com o auxílio de imagens e tons musicais análogos ao som da fala e em diferentes frequências e tempos de duração”, conta.

O software foi desenvolvido em três etapas: criação dos desenhos e animações, gravação dos sons e criação do programa final, sendo em seguida testado e validado em dezenas de crianças com dislexia.

Para isso a pesquisadora realizou dois estudos, com crianças na faixa etária entre 7 e 14 anos. Foram comparados, antes e após a utilização dos jogos, os desempenhos obtidos em testes de leitura, consciência fonológica e processamento temporal auditivo (PTA).

Treinamento em casa

No primeiro estudo, o desempenho do grupo experimental, formado por 12 crianças treinadas que praticaram o jogo e também foram submetidas à terapia fonoaudiológica, foi comparado com o desempenho do grupo controle, de 28 indivíduos não treinados, em testes de leitura, consciência fonológica e processamento temporal auditivo.

Em seguida, o grupo que não teve contato com o jogo no primeiro estudo, formado por 18 crianças com dislexia, usou os jogos por dois meses e foi comparado no segundo estudo em três momentos: dois meses antes do início do treinamento, no início e no final do treinamento com o software.

Em todas as etapas do estudo, o treinamento foi conduzido na casa de cada criança, que jogou por cerca de 40 minutos, cinco vezes por semana. O programa também apresentava um link com a internet para que cada jogada fosse enviada à pesquisadora, possibilitando o acompanhamento da melhora do desempenho.

No primeiro estudo, conta Cristina, comparado ao grupo controle, houve melhora significativa do grupo experimental após o treinamento no que diz respeito ao desempenho em habilidades de consciência fonológica (tarefas silábicas) e em habilidades de processamento auditivo temporal (padrão de frequência).

“Verificamos, em média, 25% de aumento do número de acertos nos jogos para o grupo experimental, contra cerca de 3% para o grupo controle nas mesmas provas”, compara Cristina.

No segundo estudo, por sua vez, também foram observadas melhorias no grupo experimental, numa proporção similar de 25% de aumento do número de acertos após o treino, contra 5% no período anterior ao treinamento. Desta vez a pesquisadora verificou melhorias em relação ao desempenho em habilidades de leitura de texto, habilidades de consciência fonológica e habilidades de processamento auditivo temporal, sobretudo o padrão de frequência e duração dos sons.

Os dois jogos mostraram-se eficazes, explica a pesquisadora, para o treinamento temporal auditivo do grupo. “Mas outro objetivo do estudo era que as crianças com dislexia, ao treinarem suas habilidades auditivas, indiretamente também melhorassem suas habilidades de leitura, o que ocorreu apenas com parte da amostra”, aponta.

“O próximo passo do trabalho será a análise das causas dessa melhora na leitura não ter ocorrido com todas as crianças, de modo a verificar se o problema está no próprio programa ou até mesmo no grupo analisado”, conta Cristina.

A pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP concorreu com seu trabalho ao prêmio anual da Academia Americana de Audiologia, em evento da entidade que ocorreu no início de abril, em Dallas, nos Estados Unidos.

“Concorremos com dezenas de outros trabalhos de pesquisadores de todo o mundo, mas infelizmente não ganhamos o prêmio. Por outro lado, estamos em fase de obtenção da patente dos jogos para disponibilizá-lo a pacientes com dislexia, o que já está ocorrendo internamente nos serviços de saúde vinculados à universidade”, disse.

* Fonte: Boletim Agência FAPESP de 15.04.2009. Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações, citada a autoria e a fonte.

Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações, citada a autoria e a fonte www.docelimao.com.br 


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