Carin Primavesi *

Todas as formas de vida imóveis, como as plantas, não possuem sistema nervoso, ou seja, quando não há a necessidade de se movimentar, não existe um sistema nervoso. Os neurônios existem para o movimento, os comportamentos e as atitudes. A aprendizagem depende do movimento. A memória depende do movimento. A saúde depende do movimento.

Numa criança, quanto mais precário o desenvolvimento motor, maior é o prejuízo nas capacidades cognitivas e executivas, e maiores serão as dificuldades na aprendizagem.

As atividades do corpo e do pensamento são interdependentes e inter-relacionadas. Quanto mais a criança se movimentar, mais conexões neurais formará e mais facilmente ela poderá aprender, conquistando uma inteligência mais plural.

Inteligência, enquanto conceito, é a capacidade de fazer conexões. Quanto maior a rede de conexões mais rápido a criança (futuro adolescente e adulto), pensa, entende, aprende a fazer escolhas e a encontrar soluções diante de seus desafios. As estruturas neurais básicas se formam na primeira infância, quando a plasticidade cerebral é máxima. Depois a plasticidade vai reduzindo, dependente de muito mais estímulos para não seguir em declínio. 

As atividades e movimentos do corpo, sentidas na emoção, elaboram formas superiores do raciocínio, organizam a mente e mudam o funcionamento cerebral. (Louzada, 2011)

A repetição de um determinado movimento pode até resultar em uma modificação cerebral desejada em crianças com transtorno de déficit de atenção, dificuldades de aprendizagem e de concentração, e de relações interpessoais. Motricidade é um esquema estrutural para o comportamento. Majorek, Tuchelmann e Heusser (2004)

Para a criança conseguir um bom desempenho na leitura e na escrita, na aprendizagem da vida acadêmica em geral ela depende de um bom desenvolvimento físico.

O desenvolvimento intelectual é construído sobre experiências concretas de movimento, as crianças sendo autoras de sua própria vida e não assistindo outros fazendo.

Correr, subir em uma árvore, saltar, balançar, pular corda, dançar, fazer teatro, artes, música, cada movimento repetido, faz conexões neurais diversificadas e robustas, ampliando a rede neural. Muitos pais e escolas têm retirado essas práticas da vida de seus filhos por medo de acidentes, mas com supervisão fica seguro.

Há um desconhecimento de como se desenvolve o cérebro. A especificidade motora vai evoluindo conforme as experiências. Excesso de proteção, amarrar almofada no bumbum, “areia” que não arranha, piso de borracha, não deixar subir no murinho nem pular no sofá... com medo de se machucar, sem joelho ralado nem roupa suja reduz em muito a capacidade de aprendizagem.

As etapas da motricidade fina também estão sendo atropeladas. Estão aumentando a carga de alfabetização em vez de trabalhar a motricidade fina. Facilitam os movimentos necessários para o desenvolvimento cerebral como roupa sem zíper, sapatos com velcro, roupa sem botões. Para desenvolver a motricidade fina a criança precisa conseguir fechar botões, costurar, pintar, recortar, fazer tricô, tecelagem, trabalhar com argila, papel machê, fazer brincadeiras como 1 elefantinho, 2 elefantinhos, cantar músicas de repetição de silabas, declamar poesias e rimas.

Crianças que brincam no trepa-trepa passam pela experiência de tentar, cair e tentar de novo, de experimentar a frustração e na sequência vivenciar na prática a sensação de conquista e superação. Quando conseguem subir nutrem não só a autoestima, como sai dos medos de enfrentamento de desafios. Isso tem um reflexo direto na autoestima acadêmica futuramente.

Há trabalhos científicos que afirmam que o desempenho acadêmico chega a ser 40% maior em alunos cuja autoestima e confiança em si são maiores.

Após 20 min de exercício físico são produzidos neurotransmissores importantes para a emoção, o foco (atenção) e aprendizado:
1. Noradrenalina: controla a adrenalina e o cortisol - acalma;

2. Dopamina: dopa inclusive os traumas psico-afetivos - faz focar, prestar atenção e se concentrar. No déficit de atenção, há evidências de falta de dopamina;

3. Endorfina: tira as dores e mal-estar - gera bem-estar; e

4. Serotonina: regula a atenção e funções cognitivas complexas - gera bom humor.

Há escolas na Alemanha em que a primeira aula ou é educação física ou os alunos correm por 30 min no pátio ou parque, porque ocorre significativamente melhora da concentração durante as aulas do dia.

Vamos incentivar as crianças a se movimentar? Bora lá!

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(*) Carin Primavesi - Psicopedagoga, psicanalista e gestora de uma escola de educação infantil faz 25 anos – autora do livro Déficit de Atenção tem Solução. Este texto é uma colaboração da Carin e faz parte da nova edição do livro Crianças, bora comer! pela editora Doce Limão

Louzada, F. Neurociência e educação: um diálogo possível? Revista Viver, Mente e Cérebro, n. 222, jul 2011.
Majored, M., Tuchelmann, T., Heusser, P. Therapeutic eurythmy - movement therapy for children with attention deficit hyperactivity disorder (ADHD): a pilot study. Complementary therapies. Nursing&Midwifery, v. 10, 2004.