Uilca O Melo no site Compartilhando a Química
Grande parte dos elementos químicos que compõem a tabela periódica está presente no corpo humano. Tais elementos aparecem de forma combinada nas mais variadas substâncias, desempenhando diferentes funções.
É interessante destacar que essas substâncias estão em contínuo estado de rotatividade, sendo formadas e consumidas a velocidades que variam de frações de segundos até anos. Um homem adulto, de 80 kg, apresenta em seu organismo cerca de 8 kg de hidrogênio, 14,4 kg de carbono, 2,4 kg de nitrogênio, 52 kg de oxigênio, 800 g de fósforo, 200 g de enxofre, 120 g de sódio, 200 g de potássio, 1,2 kg de cálcio, 40 g de magnésio, 2,6 g de zinco e 4,8 g de ferro.
Os oito elementos mais abundantes em nosso corpo são (em ordem decrescente de abundância): O, C, H, N, Ca, P, K e S. 
Os compostos que constituem os seres vivos estão divididos em dois grupos: inorgânicos (água, sais minerais), que também são encontrados livremente no mundo mineral; e orgânicos (proteínas, carboidratos, lipídios e ácidos nucleicos), que resultam da atividade metabólica das células.
São os átomos dos elementos: oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio combinados que formam as moléculas de proteína, gordura e carboidrato, os tijolos que constroem todos os nossos tecidos. Por isso, os quatro são chamados de elementos de constituição. 
Água, proteínas, gorduras, carboidratos e vitaminas compõem aproximadamente 96% do organismo, mas tudo não passaria de um grande amontoado de moléculas sem os outros 4% restantes que são constituídos por sais minerais (o que equivale a aproximadamente 2 Kg para uma mulher de 50 Kg ou 2,8 Kg em um homem de 70 Kg). Destes minerais, cerca de 50% da massa corpórea é cálcio (Ca) e 25% é fósforo (P).
Os outros 25% são constituídos de:
- Macrominerais (presentes no organismo em maiores quantidades: consumo de 100 mg ou mais/dia): magnésio (Mg), sódio (Na), cloro (Cl), potássio (K) e enxofre (S),
- Microminerais (presentes em nosso organismo em menores quantidades - consumo de miligramas ou microgramas/dia, mas com funções específicas essenciais): ferro, zinco, cobre, iodo, manganês, flúor, molibdênio, cobalto, selênio, cromo, vanádio, níquel, silício e estanho e,
- Oligoelementos  ou Elementos traços (apresentam-se em quantidades pequeníssimas, cujas funções metabólicas ainda não estão totalmente elucidadas): arsênio, boro, alumínio, cádmio, chumbo, mercúrio, lítio e estrôncio. 
A quantidade necessária de um mineral não reflete a sua importância para o organismo. A deficiência de um mineral necessário apenas em quantidades mínimas pode ser igualmente ou mais prejudicial do que a deficiência de um mineral necessário em quantidades maiores. O excesso de minerais no organismo, porém, não apresenta qualquer finalidade fisiológica útil e pode ser até tóxico.
Nosso organismo, em condições normais, excreta diariamente cerca de 20 a 30 g de minerais. Sua reposição deve ser imediata pela alimentação e ingestão de líquidos para se manter o equilíbrio orgânico. São encontrados no organismo como sais ou dissociados em íons (cátions e ânions), por isso são comumente conhecidos como sais minerais.
Portanto, para nos mantermos saudáveis, precisamos, diariamente, ingerir pequenas quantidades de sais adequados presentes em muitos alimentos. 
Como o corpo humano não é capaz de produzir sais minerais, eles devem ser ingeridos através de uma alimentação que forneça quantidades adequadas destas substâncias. Caso haja excesso, este será eliminado através das fezes, da urina, do suor e da expiração. Vale lembrar que os minerais não fornecem calorias ao organismo, porém desempenham funções importantíssimas no organismo como regulação do metabolismo enzimático, irritabilidade muscular e pressão osmótica. 

Talvez você já tenha ouvido alguém dizer, após a prática de esporte ou mesmo na praia, que a água de coco repõe a energia. Essa bebida é bastante consumida por atletas e praticantes de atividades físicas, mas a sua principal contribuição é na reposição de sais minerais, porque apesar da polpa ser bastante calórica (590 calorias/100 g), um copo de água de coco é muito pouco calórico (22 calorias/100 ml).

As tabelas a seguir fornecem uma lista dos elementos de constituição, dos mais importantes macrominerais e microminerais, destacando suas funções (importância) no corpo humano:

Tabela 1- Importância dos Elementos de Constituição

ELEMENTOS DE CONSTITUIÇÃO

IMPORTÂNCIA

Oxigênio

Constituinte da água e das moléculas orgânicas (que contém carbono e hidrogênio, produzidos por um sistema vivo). É necessário para a respiração celular, que produz trifosfato de adenosina (ATP), uma substância química muito rica em energia.

Carbono

Encontrado em toda a molécula orgânica.

Hidrogênio

Constituição da água, de todos os alimentos e da maior parte das moléculas orgânicas.

Nitrogênio

Componente de todas as proteínas e ácidos nucleicos: O ácido desoxirribonucleico (DNA) e o ácido ribonucleico (RNA).


Tabela 2- Importância, efeitos do excesso, efeitos da deficiência e onde encontrar dos Macro e Microminerais

MACRO-MINERAIS

Importância

Efeitos do Excesso

Efeitos da deficiência

Onde encontrar

Cálcio (Ca+2)

Atua na formação de tecidos; ossos e dentes; age na coagulação do sangue; contração muscular, regulação de batimentos cardíacos; combate as infecções e mantém o equilíbrio de ferro no organismo.

Perda da função renal; formação de cálculos renais;

Osteoporose; raquitismo; deformações ósseas; enfraquecimento dos dentes; crescimento retardado.

Queijo; leite; vegetais de folhas verde-escuras; sardinha e salmão.

Sódio (Na+)

Equilíbrio ácido-básico; equilíbrio da água corporal; transmissão de impulsos nervosos.

Pressão arterial alta; problemas renais.

Cãibras e retardamento na cicatrização de feridas; náuseas.

Sal de cozinha; vegetais; leite e derivados.

Magnésio

(Mg+2)

Ativa as enzimas que participam na síntese das proteínas.

Diarréia.

Falha no crescimento; distúrbios de comportamento; tetania (movimentos abruptos, convulsões e coma);

Vegetais com folhas verdes; grãos integrais; frutas cítricas (maçã e limão).

Fósforo (P3)

Formação de ossos e dos dentes; equilíbrio ácido-básico.

Erosão da maxila.

Fraqueza; desmineralização óssea; perda de cálcio.

Nozes; leite e derivados; carne; miúdos; aves; peixe; ovos; leguminosas; queijo e cereais.

Potássio (K+)

Equilíbrio ácido-básico; equilíbrio da água corporal; transmissão de impulsos nervosos.

Nenhum, se os rins funcionam bem. Com função renal precária causa acúmulo de potássio e arritmias cardíacas.

Cãibras musculares; ritmo cardíaco irregular; confusão mental; perda de apetite; Morte.

Vegetais verdes (especialmente couve); banana; laranja; chá; arroz integral.

Enxofre

Equilíbrio ácido-básico; função hepática.

Desconhecidos.

Difícil de ocorrer se a ingestão dietética for adequada.

Laranja; proteínas (carnes, ovos); Conservantes alimentares; nozes; alho;  batata; couve-flor e abacaxi.

Cloro (Cl-)

Participa dos processos de equilíbrio hídrico celular e na manutenção do pH.

Juntamente com o sódio, contribui para a pressão arterial alta. 

Difícil de ocorrer se a ingestão dietética for adequada.

Alimentos que contêm sal; alguns vegetais; frutas. 

MICRO-  MINERAIS

Importância

Efeitos do Excesso

Efeitos da deficiência

Onde encontrar

Flúor (F)

Forma esmalte dos dentes e participa da formação dos ossos; previne dilatação das veias, cálculos da vesícula e paralisia; equilibra os fluidos no organismo.

Manchas nos dentes; densidade óssea alta.

Formação de cáries.

Encontrado na água fluoretada; frutos do mar; peixes; cebola; couve-flor; maçã; sal (cloreto de sódio); alimentos processados com sal adicionado.  

Cromo

(Cr+2 e Cr+3)

Componente de algumas enzimas; participa no metabolismo da glicose; reduz os níveis de colesterol. 

Inibição de enzimas; exposições ocupacionais; danos à pele e aos rins.

Menor capacidade de metabolizar a glicose.

Encontrado em frutas; carne; queijos e laticínios; cereais integrais; batata; fígado; levedo de cerveja e legumes verdes.

Iodo (I)

Faz funcionar a glândula tireóide.

As ingestões muito altas deprimem a atividade tireóidea.

Bócio (papo formado pelo crescimento da glândula tireóide); retardamento físico e mental  (em crianças); obesidade;   cansaço.

Peixes; frutos do mar; vegetais; sal iodado e laticínios.

Selênio

Funciona em íntima associação com a vitamina E. Atua no metabolismo da gordura e é antioxidante.

Distúrbios gastrointestinaise irritações pulmonares.

Anemia (rara); mialgia.

Cereais integrais; Castanha-do-pará; carne; frutos do mar; atum e bacalhau.

Cobre (Cu+2)

Componente das enzimas associadas ao metabolismo do ferro.

Condição metabólica rara (doença de Wilson).

Anemia; alterações ósseas (rara em seres humanos). 

Carnes; água potável.

Zinco (Zn+2)

Componente das enzimas que participam na digestão.

Febre; náuseas; vômitos; diarréias.

Falha no crescimento; glândulas sexuais pequenas.

Extensamente distribuído nos alimentos.

Ferro (Fe+2)

Compõe a hemoglobina e as enzimas que atuam no metabolismo energético.

Doenças cardíacas; cirrose hepática.

Anemia; hemorragia intestinal;

fraqueza e menor resistência às infecções.

Leguminosas (feijão); fígado; rim; coração; gema de ovo; verduras; nozes; frutas secas; azeitona e salsa.

O alumínio é um metal cujo impacto sobre a saúde pública tem chamado a atenção de médicos e pesquisadores, devido à hipótese de que ele provoque a doença de Alzheimer. A lenta contaminação de pessoas pode estar sendo causada pela ingestão de alimentos preparados em panelas de alumínio ou acondicionados em embalagens feitas com esse metal e pelo uso de desodorantes antitranspirantes.

O flúor causa depressão por eliminar o lítio do organismo, queda de cabelo crônica, varizes, hemorroidas, estrias, flacidez, celulite, dificuldade de cicatrização, catarata e outros problemas de saúde. Anteriormente, a principal causa de intoxicação por flúor residia na ingestão acidental de inseticidas ou raticidas que continham o elemento em questão. Na atualidade, a maior parte dos casos se deve a ingestão de dentifrício. Também tem ocorrido intoxicação devido ao mau funcionamento dos equipamentos de fluoretação da água.

O mercúrio causa intoxicações nas suas três formas: o mercúrio metálico, os sais de mercúrio e os compostos organomercúricos. Assim como no caso do chumbo, suas principais vias de absorção são o sistema gastrointestinal e o sistema respiratório. Quando absorvido, o mercúrio pode causar danos neurológicos e respiratórios, disfunções renais e gastrointestinais, distúrbios visuais, perda de audição, tremores musculares, paralisia cerebral e até a morte. Como o mercúrio é utilizado na extração do ouro, muitos trabalhadores de garimpos são intoxicados por este elemento químico. O cádmio, bastante citado em noticiários por fazer parte da composição de baterias de telefones celulares, pode causar intoxicação aguda ao corpo humano, sendo que seus efeitos mais marcantes são os distúrbios gastrointestinais (dores abdominais, náuseas e vômitos) e paralisia renal.

O arsênio pode ser absorvido pelo organismo através do sistema gastrointestinal, causando graves doenças cardiovasculares, renais, intestinais e até a morte. De forma mais abrangente e, infelizmente, tão prejudiciais à saúde quanto o arsênio, estão os chamados metais pesados. O chumbo, por exemplo, pode causar intoxicação basicamente através da absorção pelo sistema gastrointestinal e pelas vias respiratórias. Provoca distúrbios neurológicos (dores de cabeça, convulsões, delírios e tremores musculares), gastrointestinais (vômitos e náuseas) e renais. Elevadas concentrações de chumbo podem levar à morte.

O tratamento para intoxicações causadas por chumbo, mercúrio e cádmio está basicamente centrado na utilização de antídotos, que são substâncias químicas de diferentes classes. Algumas destas substâncias recebem o nome de agentes complexantes ou quelantes e podem ser naturais ou sintéticas. Quando chegam ao organismo, esses antídotos se ligam aos íons metálicos que causam a intoxicação e formam compostos de elevada estabilidade que depois são eliminados, em geral pela urina. Alguns exemplos de complexantes são a penicilamina, o EDTA (ácido etilenodiaminotetracético), o dimercaprol e o ácido 2,3-di-mercapto-succínico (DMSA).

Referências:
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