A falácia do Mito das boas práticas agrícolas

A falácia do Mito das boas práticas agrícolas

O discurso da soja transgênica

Claudio Lowy *

Parte 4: Agroquímicos

Falácia: Fraude, engano ou tentativa de prejudicar a outros. 

Mito: Fábula, ficção alegórica, especialmente em matéria religiosa. Os mitos são parte do sistema de crenças de uma cultura ou comunidade, que os considera histórias verdadeiras.

Hoje, existem dois sistemas alimentares concorrentes:

• Em primeiro lugar, o sistema de monocultura extensiva usando agroquímicos, no qual o sistema transgênico é o último elo.

• Por outro lado, o sistema que integra a agricultura familiar da chácara e os diferentes sistemas agro-ecológicos, que lutam apesar de sofrer ataques regulares, e que estão em permanente formação, coordenação e crescimento.

O propósito destes escritos é mostrar as mentiras, trapaças, ocultações e deturpação do discurso daqueles que promovem e / ou se beneficiam do sistema de monocultura extensiva que utiliza produtos químicos, incluindo os transgênicos. Neste quarto texto discutem-se os aspectos falaciosos e mitológicos da chamada "boas práticas agrícolas"

A falácia e o mito

Tanto as agências do governo bem como as entidades privadas, promovem o uso de pesticidas e insistem em que o dano para a saúde e para o meio ambiente produzido pelos pesticidas é porque eles são mal utilizados, e que este dano pode ser evitado através da implementação das assim chamadas, boas práticas agrícolas no uso de pesticidas.

Se os usuários desses produtos fossem treinados nessas boas práticas agrícolas, provavelmente, mas não com certeza, como veremos no final, o prejuízo poderia ser menor. No entanto, existem vários aspectos a serem observados.

1) Não podemos ter boas práticas agrícolas no uso de pesticidas quando a classificação toxicológica esconde a maioria dos danos que esses produtos vão gerar na saúde e no meio ambiente, fazendo aparecer esses produtos muito menos tóxicos do que realmente são.

2) De acordo com a Organização Mundial de Saúde, e do SENASA (Serviço Nacional de Segurança Agro – Alimentar da Argentina) a classificação toma como base a LD aguda 50%, obtendo-se o seguinte:

Ia - Extremamente perigoso; muito tóxico. Faixa vermelha.

Ib - altamente perigosos; tóxicos. Faixa vermelha.

II - moderadamente perigosos; nocivos. Faixa amarela

III - Um pouco perigoso; cuidado. Faixa Azul

IV – Normalmente não causa nenhum dano; cuidado Faixa verde

Na categoria IV, o termo "normalmente não causa nenhum dano", não significa que estes produtos "geralmente não causem dano nenhum", mas que estes produtos não oferecem perigo se aplicados seguindo as normas recomendadas. Isto implica que a classificação da OMS e da SENASA, reconhece que todos os produtos incluídos nas primeiras quatro categorias são perigosos para a saúde e o ambiente, ainda que sejam aplicados observando as regras vigentes. Ambas as instituições admitem não haver boas práticas agrícolas que possam evitar tais danos.

3) Este discurso não explica porque os usuários potenciais não foram devidamente treinados antes de autorizar a comercialização e uso generalizado dos pesticidas, de modo que as práticas indevidas não causem danos à saúde nem ao meio ambiente e, sendo este um claro caso de negligencia, também não fica estabelecido quem será responsável da  indenização pelos danos causados.

4) Este sistema gera um conjunto de responsabilidades criminais e civis que ficam sem punição. Fornecedores de produtos, profissionais que prescrevem e recomendam o uso de pesticidas, e os produtores que aplicam estes produtos sem as devidas precauções, apenas o fazem porque acreditam que vão ganhar mais dinheiro, independentemente de que empreguem ou não as boas práticas agrícolas . 

Embora exista consciência do perigo para a população afetada pela deriva de substâncias tóxicas, incrementando os resíduos nos alimentos que chegam à mesa das famílias, eles também sabem que não há nenhuma maneira, no momento, de que possam ser acusados civil e/ou criminalmente pelos danos sofridos por outros, porque não tem sido possível demonstrar que um determinado pesticida detectado no corpo de uma vítima tenha vindo de uma determinada pulverização, realizada em uma cultura em particular por uma pessoa determinada.

Na verdade, apesar das dezenas de milhões de galões pulverizados por ano e milhões de pessoas afetadas, não há nenhum caso conhecido de sanções penais ou civis de intoxicação por agrotóxicos. O máximo que tem sido feito é forçar a retirada da pulverização nos lugares onde as pessoas vivem. Então, as soluções que têm adotado os produtores consistem em pulverizar produtos químicos tóxicos fora de certo perímetro onde as pessoas desenvolvem a sua vida, ou bem continuar com seus ganhos monetários sem escrúpulos, apenas com a possibilidade de que talvez a justiça lhe imponha a proibição de produzir, porque não corre risco nenhum de ser punido.

5) Este sistema de produção torna impossível aplicar as boas práticas agrícolas, porque os pesticidas utilizados apenas permitem a sobrevivência dos indivíduos das pragas que tenham resistência natural a esses produtos, eliminando todos os outros. Isto gera a resistência a esses biocidas, pelo que sempre é necessário pulverizar maiores quantidades de agrotóxicos por hectare para conseguir o mesmo efeito.

6) Há muitas experiências que indicam que o manuseio seguro de pesticidas nos países em desenvolvimento é um mito, como Jaime Garcia afirma em sua obra "O mito da utilização segura de pesticidas nos países em desenvolvimento", que está disponível no site:

http://www.unmsm.edu.pe/quimica/website/pdf/boletines/BOLETIN_47.pdf

Após a consideração e análise de vasta literatura referindo-se a relatórios de vários países e organizações internacionais e de acordo com as estatísticas sobre o uso de pesticidas que associam diversas doenças e mortes, o autor resume os fatos da seguinte forma:

Nas ultimas duas décadas, os países em desenvolvimento, tem recebido muito treinamento no manuseio de agrotóxicos. No entanto, alguns acompanhamentos sobre os efeitos práticos destes ensinos têm revelado que embora na maioria dos casos a transferência de conhecimento tenha ocorrido, não se conseguiu uma mudança significativa de atitude. O treinamento se tornou numa tarefa que têm pouca chance de produzir resultados práticos.  

“A palavra – segurança - repetida amplamente e utilizada nos treinamentos sobre uso de pesticidas, é um mito que fornece uma falsa sensação de segurança nos estudantes porque não existe uma comprovação prática dos efeitos que são pretendidos.”

O resumo termina enfatizando a necessidade de maiores esforços na disseminação de práticas agronômicas que tendam a reduzir ou eliminar o uso desses produtos.

Comentários da Conceição Trucom: embora pareça algo utópico, já não é mais tão distante a ideia de fortalecermos - através de compra fidelizada, parcerias, plantio familiar e outros incentivos - a produção de sementes e alimentos de cultura orgânica.

Para mim é absolutamente claro que quem faz as regras do mercado é o consumidor, ainda que em passos lentos. Porém, quanto mais unidos, mais rápido e forte será o movimento...principalmente se envolvemos nesse processo as escolas, as crianças e a mídia.

E, não é o dinheiro que faz a força, mas o conhecimento, a conscientização integrado com as AÇÕES.

(*) Claudio Lowy é Engenheiro Forestal - Mestre em Desenvolvimento Humano Sustentável

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