Ciência e Espiritualidade na Casa PANC Para TI

Ciência e Espiritualidade

Alessandra Ruiz, Conceição Trucom, Mônica Passarinho e Adilson Ramachandra*

Paradoxo ou Convergência no século XXI? Este é a temática desta Roda de Conversa que acontecerá na Casa PANC Para TI durante a FLIP 2019 em Paraty/RJ. Será no sábado 13.07 das 15 às 16 horas - Largo do Rosário, 344 no Centro Histórico. Desta roda irão participar Conceição Trucom, Mônica Passarinho e Adilson Ramachandra, tendo Alessandra Ruiz como moderadora.

A polarização através dos séculos... vivemos tempos polarizados. E ultimamente, mais que nunca, as posições das pessoas nos extremos se consolidam – no que concerne a linhas de pensamento e crenças – em várias áreas do conhecimento humano. E esses extremos parecem brigar e competir ferozmente, para que só um prevaleça, como se fossem coisas paradoxais.

Isso vale para linhas políticas (direita e esquerda), posturas socioeconômicas (conservadorismo e progressismo), posições quanto liberdade ligada a gênero (machismo e feminismo, que não são opostos aqui, mas me refiro à mentalidade), orientação sexual e identidade de gênero (hétero e homo, cis e trans sexuais) e parece que também para o tema que estamos tratando aqui hoje – ciência e espiritualidade. Talvez tudo isso tenha uma mesma raiz, e a cultura do patriarcado como forma de dominação ajude a entender muita coisa, mas hoje vamos nos ater ao tema da ciência e da espiritualidade.

Ao longo da história, esses dois tópicos sempre pareceram ter uma relação, ora como amigos, ora como inimigos. Na Idade Média, tudo o que contrariava as crenças religiosas era visto como heresia, e muitos pensadores e cientistas foram perseguidos pelo tribunal da inquisição, como foi o caso de Galileu Galilei, ou condenados e mortos, como Giordano Bruno.

Já no século XVII, que foi uma transição entre a Idade Média e o Iluminismo, a ciência em si teve um grande impulso, mas os homens que criaram o nosso jeito de pensar hoje viveram com ideias medievais, barrocas, e tementes a Deus. Para Isaac Newton, René Descartes e outros grandes cientistas, Deus era uma parte inseparável do mundo nos projetos científicos que esses cientistas propunham. Quando Isaac Newton nasceu, na Inglaterra de 1642, matemática, filosofia, religião, ciência e magia se confundiam. Astronomia e astrologia eram a mesma coisa. Alquimia e química também. Esses cientistas e pensadores enunciaram e descobriram várias das Leis que governam a natureza, o mundo e o universo, mas para eles Deus era tanto quem garantia a eficiência e o funcionamento dessas Leis, como quem operava os próprios fenômenos naturais.

Podemos ver hoje como Newton fez uso da abordagem do “Deus das lacunas", na qual Deus é invocado para explicar algo que a ciência não consegue. Para ele, que é autor da mecânica e da lei da gravitação universal, co-inventor do cálculo e descobridor algumas das leis fundamentais da óptica, inspirador do Iluminismo e do modelo de racionalidade, é espantoso que Deus fosse uma parte integral e essencial do universo.

Ironicamente, uma divisão entre ciência e espiritualidade surge novamente logo depois, principalmente por causa do sucesso da ciência de Newton. Se Leis Universais explicavam tanta coisa, tudo não poderia ser incluído? O Deus de Newton se apertou em lacunas cada vez menores graças ao avanço da ciência que ele havia criado.

Há uma história interessante. No início do século XIX, o físico e matemático francês Laplace propôs uma origem física do Sistema Solar baseada na contração de uma grande nuvem de gás giratória, algo muito próximo do que se considera atualmente. Deu a Napoleão uma cópia de seu livro Mecânica Celeste. Após parabenizar o sábio, expressa sua surpresa ao não ver Deus mencionado em seu manuscrito. Ao que Laplace responde: “Senhor, eu não preciso desta hipótese". Ou seja, Deus não era mais necessário.

Mas os teólogos afirmavam que Deus ainda intervinha nos seres biológicos, principalmente nos humanos. A mente coletiva ou popular considerava – ainda considera – Deus como um imperador do universo, um super-humano sentado no seu trono no céu, comandando todos. Mas então surgiu Charles Darwin, o que foi um grande golpe nos teólogos porque agora não havia mais necessidade de Deus também na evolução. A biologia não precisava de Deus, ela tinha suas leis também.

Ao longo do século XX, nessa linha, os cientistas ficaram, portanto, ligados muito mais ao materialismo do que à espiritualidade. Para os cientistas, há uma explicação razoável dos fenômenos, há leis físicas, químicas, biológicas, naturais, que regem e explicam tudo o que acontece. Há um modelo científico, um paradigma aceito. E quando esse paradigma não consegue explicar mais as coisas, se muda de paradigma. Quem disse isso foi Thomas Kuhn, no seu livro A estrutura das revoluções científicas, de 1962.

Kuhn revelou os mecanismos de funcionamento da ciência. Ele disse que a ciência normal não se desenvolve por acumulação de descobertas e invenções individuais, mas por revoluções de paradigmas. Paradigmas são pressupostos das ciências, ou seja, são as realizações cientificas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem modelos de problemas e soluções para uma comunidade de cientistas. Por exemplo, a teoria geocêntrica de Ptolomeu, que afirmava ser a terra o centro do universo, foi substituída por um novo modelo, a teoria heliocêntrica de Copérnico, que afirmava ser o sol o centro.

Por tudo isso, os religiosos do século XX principalmente, e ainda agora no século XXI, passaram a considerar a ciência como inimiga, porque, no seu modo de pensar, os cientistas tentam “matar Deus”.

E aí chegamos novamente nos extremos radicais. De um lado há criacionistas, que acham que o mundo foi criado por Deus assim como existe, e que Deus explica tudo e a ciência é nociva, e de outro há os cientistas e pensadores ateus radicais, que acham que o grande problema do mundo são as religiões e a mentalidade religiosa, e a combatem com todas as forças, principalmente os chamados “quatro cavaleiros do apocalipse", Richard Dawkins (autor de Deus, um delírio), Daniel Dennett, Sam Harris e o falecido Christopher Hitchens.

E finalmente chegamos ao século XXI, a 2019, hoje, aqui em Paraty, na casa PANC, e estamos ao lado de cientistas espiritualizados e de um editor tanto de ciência quanto de espiritualidade, para discutirmos se realmente temos aqui um paradoxo ou uma convergência entre esses dois temas.

A CONVERGÊNCIA

Alguns cientistas já contemplam a visão da ciência e da espiritualidade, como é o caso de Amit Goswami, que está no Brasil inclusive, e o brasileiro Marcelo Gleiser.

Amit Goswami é um físico hindu que diz que como a consciência cria o mundo material, a matéria não é o elemento formador da criação. Em vez disso, afirma que o verdadeiro fundamento do que conhecemos vem da consciência, que é transcendental, fora do espaço-tempo, não local e onipresente, e que o mundo físico está submetido a ela. Ele diz que a matéria nasce da consciência e que é manipulada por ela, e a realidade da matéria é secundária à da consciência. Os físicos explicam fenômenos, mas a consciência não é um fenômeno. Goswami diz que tudo é fenômeno da consciência.

Como as possibilidades tornam-se eventos reais, há o espaço para uma consciência, e ela deve ser uma consciência cósmica. Há uma semelhança com o modo como Deus é retratado, pelo menos na espiritualidade tradicional.

“A ciência descobriu a espiritualidade. Hoje, há uma teoria científica logicamente consistente sobre Deus e a espiritualidade com base na física quântica e no primado da consciência. E temos dados experimentais replicados apoiando essa teoria. Noutras palavras, embora a mídia ainda não alardeie isso, há agora uma ciência viável da espiritualidade prenunciando uma mudança de paradigma, a superação da atual visão de mundo que estimula exclusivamente a materialidade. Você pode chamar a nova ciência de ciência de Deus, mas não precisa fazê-lo. Na nova ciência, não existe Deus como um imperador todo poderoso, fazendo julgamentos a torto e a direito; existe uma inteligência que também é o agente criativo da consciência, e que você pode chamar de Deus, se quiser. Mas esse Deus é objetivo, é científico.

O fisico brasileiro Marcelo Gleiser recebeu em março de 2019 o prêmio Templeton do diálogo entre ciência e espiritualidade, de 1,4 milhão de dólares, o equivalente ao "Nobel" da espiritualidade, que já premiou líderes religiosos como Dalai Lama, Madre Teresa de Calcutá e o arcebispo sul-africano Desmond Tutu. Ele é o primeiro brasileiro a receber. É judeu e carioca e mora nos EUA desde 1986 e é professor de física e astronomia Dartmouth College, uma das universidades mais importantes dos Estados Unidos, desde 1991. Escreveu best-sellers de divulgação científica sobre cosmologia e se declara um agnóstico e simpático de uma visão que contesta a existência de Deus, apesar de não negá-la. Um dos mais notórios críticos do prêmio Templeton é o biólogo Richard Dawkins

Gleiser diz que as pessoas têm uma visão muito distorcida da ciência, da religião e da relação entre ambas. Elas imediatamente colocam ciência e fé como antípodas em confronto constante. Mas sua visão é um pouco mais histórico-cultural. Vê a ciência como uma manifestação do esforço humano em se engajar com o mistério da existência. E a religião é, também, uma manifestação do esforço humano em se engajar com o mistério da existência.

A ciência pode dar respostas a certas questões, até um certo ponto. O que são o tempo, a matéria, a energia? As respostas científicas são válidas apenas em um âmbito teórico. Devemos ter a humildade para aceitar que estamos cercados de mistério”, afirma Gleiser, que diz que “existem certas questões que hoje estão na fronteira científica, mas que já fazem parte de um diálogo humanista há milênios. E hoje não podem ser respondidas nem por uma, nem por outra. Pensemos no livre-arbítrio. Há cientistas neurocognitivos e até físicos trabalhando nisso, mas também há filósofos e teólogos. Então, para se ter uma visão coerente, é preciso reconhecer que existe uma complementaridade no saber e que tanto a ciência quanto as humanidades têm muito a aprender umas com as outras." 

Fé e evidências científicas

A ciência não consegue “desprovar" a existência de algo; ela só é capaz de comprovar a existência. Carl Sagan dizia que “ausência de evidência não é evidência de ausência", aplicando essa frase à busca por vida extraterrestre, ou seja, o fato de que não a achamos ainda não significa que ela não exista.

Marcelo Gleiser diz que podemos usar esse raciocínio para qualquer outra divindade – não apenas o Deus judaico-cristão, ou seres estranhos/mitológicos. Podemos dizer que é “altamente improvável" ou “altamente surpreendente" que algo assim exista, mas não conseguimos provar que não exista. Então podemos, sim, ver em afirmações como “Deus não existe" um ato de fé, pois não há nenhuma evidência que apoie essa convicção.

O que é fé, de uma certa forma? Você tem evidências, mas não são, digamos, evidências científicas. O importante nisso tudo é que as pessoas entendam que existem diferenças absolutamente fundamentais entre a metodologia científica e a fé religiosa.

O que acontece quando inserimos Deus nas lacunas do conhecimento científico? Para Gleiser, preencher tais lacunas com Deus pode ser um problema para a ciência, pois é a partir destes espaços em branco que se criam os questionamentos e a busca por respostas sobre o universo. Os cientistas têm um grande desejo de aprender mais sobre o mundo, e colocar Deus nas lacunas não expandirá nossa compreensão do universo.

Mas há uma terceira opção: nem existe um designer cósmico, nem somos uma raridade estatística dentro de um multiverso, mas simplesmente somos seres humanos limitados que vivemos cercados pelo mistério, e nesse mistério buscamos entender o que está acontecendo da melhor forma possível.

Ciência e Espiritualidade

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Conceição Trucom

Bacharel em Química pela UFRJ, atuou por 24 anos na área científica, em projetos nas áreas de química orgânica, inorgânica e bioquímica. Empresária por 13 anos, atuou como Diretora de P&D da Bentonita Vulgel Ltda e da Chemetch Consultoria Ltda. Estudiosa por natureza, em 1995 iniciou uma busca determinada por ensinamentos e práticas que trouxessem mais consciência e qualidade de vida. Nesse processo, especializou-se nas seguintes áreas: alimentação e medicina ayurvédica, medicina tradicional chinesa, macrobiótica, vegetarianismo e veganismo, alimentação crudívora, fitoterapia, aromaterapia, meditação e estudos da mente. Há mais de 20 anos atua como pesquisadora, escritora, consultora e palestrante, sempre desenvolvendo trabalhos que têm como foco a alimentação consciente, desintoxicante e vegetariana com foco no locavorismo, instrumentos básicos para garantir saúde, produtividade, qualidade de vida integral de todos: seres vivos, meio ambiente e planeta. Ministra palestras, cursos, workshops e participa de eventos e programas relacionados à saúde e alimentação saudável em todo o Brasil. 

Mônica Passarinho

Bióloga pela UnB, permacultora, educadora para sustentabilidade com foco em aprendizagens pela natureza e processos participativos, com especialização em Educação Gaia – Design para Sustentabilidade. Atuou no Instituto Toca, onde contribuiu para o currículo da Escola da Toca (SP) e promoveu a Alfabetização Ecológica. Iniciou seus trabalhos em 2005 no Ipoema – Instituto de Permacultura, em Brasília. Colaborou para a construção e desenvolvimento do currículo, planejamento e execução da disciplina Green Studies da Green School, em Bali, na Indonésia, que culminou no desenvolvimento do conceito de Educação de Transição. e Green School (Bali).

Adilson Ramachandra

Editor com 16 anos de experiência no mercado editorial brasileiro, escritor, palestrante e pesquisador na área de história. Cursou história na PUC de São Paulo e iniciou sua carreira em 2003 na Editora Aleph como consultor editorial, parecerista e scout, onde foi o responsável pela retomada da ficção científica, levando autores clássicos como William Gibson, Philip K. Dick, Anthony Burgess, Isaac Asimov e Arthur C. Clarke e pela edição de ciência de vanguarda, com nomes como Ray Kurzweil, Amit Goswami e outros. Em 2006 passou a atuar como consultor editorial do centenário Grupo Editorial Pensamento, casa especializada em mind/body/spirit e ciências humanas, e em 2010 tornou-se editor, sendo responsável pelos selos Pensamento, Cultrix, Seoman e Jangada. É bibliófilo, apaixonado por gatos e por gastronomia vegetariana, e DJ nas (raras) horas vagas. 

Alessandra J. Gelman Ruiz

Agente literária e editora, trabalha há 26 anos no mercado editorial. Cursou Ciências Biológicas (USP) e Ciência da Computação (Unicamp) e fez curso de extensão em Publishing pela Universidade de Yale. Trabalhou em editoras de pequeno, médio e grande porte, como Alaúde, Gente, Gutenberg e Sextante. Foi professora convidada do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp pelo Programa Professor Especialista Visitante em Graduação, deu aulas no MBA em Book Publishing da Casa Educação/Instituto Singularidades e dá aulas na LabPub, além de ministrar palestras, workshops e cursos sobre o mundo dos livros. Em 2018, abriu sua própria agência literária, a Authoria Agência Literária & Stúdio, em São Paulo, focada especialmente em autores nacionais e seu conteúdo para diversas plataformas, visando o mercado nacional e global. 

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