Plantas da Caatinga podem ajudar a combater Aedes aegypti

Por Maiana Diniz  – Revista National Geographic – Agência Brasil
Ciência – 20.01.2016

Os compostos da cutia e da umburana são capazes de exterminar até 50% das larvas do mosquito transmissor da dengue, do vírus Zika e da chikungunya.

Duas plantas comuns na Caatinga – a cutia e a umburana – estão sendo estudadas por um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido por terem compostos que funcionam como biopesticidas no combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, do vírus Zika e da chikungunya. Os testes mostraram que os compostos dessas plantas são capazes de exterminar até 50% das larvas dos mosquitos, valor de referência para que sejam classificados como eficazes.

O coordenador da pesquisa, Alexandre Gomes, contou que desde 2011 um grupo de pesquisadores do Núcleo de Bioprospecção e Conservação da Caatinga vem estudando plantas desse bioma em busca de substâncias com propriedades larvicidas contra o mosquito. “Já sabíamos que os compostos aromáticos, ou terpenoides, reconhecidos a partir do cheiro forte de certas plantas, são inseticidas. Se eu pegar a folha da pitanga e amassar, por exemplo, vou sentir o cheiro da pitanga. O mesmo ocorre com o cravo da índia. Essas plantas têm uma quantidade boa desses compostos chamados terpenóides”, explicou. Os óleos essenciais da cutia e da umburana também são obtidos por meio do sumo da folha.

Os pesquisadores testaram os óleos essenciais de diversas plantas, seguindo o modelo definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “A gente pega um recipiente, no caso, um copo descartável, faz uma solução do óleo essencial com água e, em cada copinho, coloca 50 ml de líquido e 10 larvas do mosquito. Após 24h, averiguamos quantas larvas morreram e se o resultado foi satisfatório.”

Alexandre Gomes explicou que a grande vantagem de usar pesticidas vegetais, orgânicos, é que essas substâncias são mais seletivas e agem em pragas específicas. Os resultados dos testes mostraram que os óleos matam mais de 50% das larvas, número de referência na biologia para saber se um composto funciona. “Um produto é considerado eficaz quando mata 50%”, ressaltou.

Testes

Agora, para que esses óleos essenciais possam se tornar produtos comerciais, os pesquisadores estão investigando se só fazem mal aos mosquitos. “Apesar de ser um produto natural, precisamos saber até que dose podemos utilizar, até que ponto não fazem mal. Estamos em fase de teste de toxicidade para saber se não causam danos a células humanas e a outros organismos”, explicou. Segundo ele, os testes de toxicidade vão permitir que saibam a dose exata. “Ainda no primeiro semestre teremos os resultados”, acrescentou.

A expectativa do pesquisador é que no segundo semestre a equipe comece a buscar parcerias com a iniciativa privada para que esses óleos possam chegar ao mercado. “Infelizmente, no Brasil, o pesquisador não é preparado para ser empreendedor. Esta é a grande limitação dos pesquisadores: conseguir transformar a pesquisa em produtos. A gente só vai conseguir fazer isso com a iniciativa privada.”

As plantas usadas foram coletadas no Parque Nacional do Catimbau, em Pernambuco, e também podem ser encontradas em Sergipe e no Espírito Santo.

Complementando, no blog do Cícero Lajes encontrei esta matéria

Pesquisadores do Núcleo de Bioprospecção e Conservação da Caatinga, rede articulada pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI), estão desenvolvendo um biopesticida para combater o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, da chikungunya e do vírus zika. O biopesticida é desenvolvido a partir de compostos de plantas da caatinga, como a umburana ou umburana de cambão. Os resultados das pesquisas se mostraram promissores.
Segundo o pesquisador Alexandre Gomes, óleos essenciais de Commiphora leptophloeos, nome científico da umburana, ajudaram a combater o mosquito. O próximo passo é isolar os compostos presentes no óleo e testá-los separadamente. “A proposta é desenvolver um biopesticida com compostos de plantas da Caatinga que possa contribuir para amenizar um problema tão urgente hoje na sociedade brasileira”, afirmou o pesquisador.
Atenção e Cuidado: Ele ressalta que o uso indiscriminado
pode favorecer a resistência dos mosquitos aos inseticidas.
Os estudos também concluíram que a ação de óleos essenciais de Eugenia brejoensis, conhecida com cutia, uma espécie da família Myrtaceae (família da pitanga e goiaba), foi considerada moderada, sendo capaz de exterminar até 50% das larvas dos mosquitos nos testes, com uma dose de 214,7 ppm (parte por milhão).

Imagens da Eugenia brejoensis
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que três bilhões de pessoas estejam vivendo em áreas com risco de infecção das doenças causadas pelo Aedes aegypti em todo o mundo. Todos os anos, cerca de 50 milhões de casos de dengue são registrados no mundo, sendo que 500 mil são considerados graves, e 21 mil resultam em morte.
Texto: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
3 de outubro de 2019

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